Há algumas décadas atrás quando ainda era aluno não conseguia entender de fato o que meus queridos professores, é como são até hoje, engendravam na esvoaçante mais determinada conquista “ greval ”.
O que víamos eram pessoas como nós, que, mesmo passando pelos mais difíceis circunstância do movimento conseguiam aparecer em sala de aula com um sorriso e o mesmo empenho depois de meses de lutas e conquistas. Esses mesmos sorrisos talvez fossem responsáveis pela escolha do magistério como carreira pela grande maioria de meus colegas, inclusive eu.
Mas o que não sabíamos era que por detrás daqueles sorrisos de alegria haviam cicatrizes profundas. Desde a perseguição das autoridades políticas até mesmo a falta do alimento para seus dependentes e também alunos das escolas das quais eles trabalhavam. Tantas foram as formas para tentar calar esses gritos e conduzir as cegas um grupo de “intelectuais” que inteligívelmente conduziam e auxiliavam na formação de sujeitos que acreditavam seriam o futuro de nossa nação.
Tanto tempo se passou, e a pílula que foi dourada não foi dada na medida e hora certa. Pois se nós, hoje professores e outrora alunos, fôssemos participes das dores e testemunhas oculares dessas marcas epidérmicas e dilacerantes saberíamos sentir com a mesma intensidade o ardor de uma luta que muitas vezes se mantém calada, mesmo sabendo que a democracia reinante hoje nós dá pleno direito de abrir as nossas vozes e desnudar o nosso peito varonil. Preferimos agir muitas das vezes como aqueles negros da senzala que acorrentados com candeias não podiam socorrer ao açoite de seu companheiro, uma vez que sabiam que sua ração seria distribuída entre os espectadores, e se entregavam a assistir ao massacre em público para que o fato o ensinasse a lição ou simplesmente aumentasse suas forças para a lida no campo ou quem sabe os engordasse (Arruda, 2003).
A “verdade” que nós ronda é uma perversidade onde não sabemos mais direcionar o nosso consciente para nos identificarmos como membros de um grupo com ideais e sentimentos igualitários pela mesma causa. Preferimos assistir pela televisão ou rádio ao vil e temerário que bate à nossa porta, como se fôssemos intocáveis e/ou inatingíveis, do que lutar contra uma correnteza de corrupção interior e a expropriação de direitos de uma categoria que a muito não se aglutina. A autoflagelação endêmica é fruto que é dado a restrita classe que se coroe diante de um sistema capitalista que cega, nega, mata, aniquila. A certeza que se colhe com tanta covardia é que as mudanças para serem de fato construídas precisam ser alicerçadas sob o sol e não sobre uma penumbra que sob a rapina que ao amanhecer agride de forma ininterrupta nossos fígados até chegar na essência do ser e a sua existência.
* Pedagogo Especialista da Educação Básica SEE/MG, Professor Alfabetizador SEE/MG, Professor da Educação Infantil/PBH e Conselheiro de Educação de BH.
domingo, 6 de abril de 2008
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Um comentário:
Eden, gostei muito do seu texto. Essas marcas que ficam na gente depois de um período de greve são realmente profundas. Talvez poucos entendam como conseguimos sorrir para as crianças depois de viver tantas coisas, mas fica mais fácil qdo sabemos que é por nós e por elas que passamos por tudo aquilo.
Thaís
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