* Eden Arcanjo
Nos dias atuais, de uso quase bucólico de nossa égide democrática num período eleitoral, vemos inúmeros políticos se vangloriarem da posição de preso político, assim tal, valorizam-se ao máximo como sofredores de agruras tais como: o silênciamento, a tortura e em alguns casos até deportação de nosso país. Exaltam-se em exibi-las e vangloriam de suas cicatrizes como troféus e assim vez ou outra, nunca se esquecem de seus martírios. O paralelo que ouso fazer com os tais é pleurítico ao nosso cotidiano em sala de aula.
Vejamos! Como todo bom preso por causas políticas, que sofrera restrição do seu espaço de convivência, sendo retirado a força do viés de discussão política para ser colocado num espaço onde as paredes refletem os quatros pontos cardeais, vazada por uma janela, onde a luz e o ar são regrados, decorada por grades e silêncio. Nos coloquemos na sala de aula. Ela não é a prisão taciturna onde nossos governantes pensam educação hoje? Seu funesto hóspede, o professor, trabalha acuado sem poder com os seus pares fazer nenhuma espécie de troca, nem mesmo pela janelinha, nem de idéias, de fala, ouvir e muito menos expressar com seus colegas os problemas de seu cotidiano. Apesar de cheia de alunos a sala de aula é uma instancia pueril e cauterizada se metamorfoseando de forma fria e cruel em um espaço singular.
Bem, naquele tempo nunca se falou tanto, mesmo nas mais tempestivas manifestações campais o movimento era fortalecido pelo ouvir e falar em brados e numa única voz. Na escola, o professor se vê “acuado” entre quatro paredes, o silenciamento é tenaz e provoca um estrangulamento interno, pois fora abdicado de planejar seu trabalho coletivamente, que leva as mais diversas patologias atuais, provocam as mais diversas avarias no agente político, na maioria das vezes, quando não busca espaço para desabafar, esta predestinado a se atrofiar. Na instituição escolar atual reina o silêncio que grita por dentro e provoca o abaulamento e o eco de idéias, de forma abissal, em alguns casos, o silêncio é efêmero e tenta nos levar ao óbito, em outros casos nos torna um vulcão prestes a entrar em erupção.
Naquele período da ditadura, pensar adiante do governo era crime, muitas das vezes era melhor fazer com que tais idéias ficassem enjauladas ou longe, muito longe. Algumas vezes no sistema municipal de educação, percebemos claramente que quando as idéias não estão de acordo com o poder vigente, o mesmo através de seus agentes, nem sempre secretos, procuram de forma infame nos deportar, e nos vêem como bastardos da pátria, os insurgentes. Em algumas regionais educacionais, não é diferente, em nome de um poder infamante, persegui-se, puni-se e sem nenhum pudor encaminha-se ao corregedor todos que se levantam com um grito pênvigo. Pela primeira vez na história desse nosso país é proibido ser diferente e mais eficaz do que um coletivo burocrático cansado e homicida de qualquer ponto insurgente de mudança. Diante do corregedor, figura abotoada junto a um inferno austral, só nos resta a culpa e o purgatório.
Na década do medo, muitos colocaram seus corpos em contado direto com o poder e ganharam marcas imoladas. Nos dias políticos de hoje nada faz mais sucesso do que uma boa cicatriz, todas é claro, seja conseguida na infância e ou na mais tenra idade, carregam consigo valor adunco que arrasta e machuca a nos simples mortais que como professores e/ou educadores que de forma adversa carregamos em nosso interior as mais profundas feridas ainda latentes e pungentes as quais são tocadas pelos nossos atuais governantes com a extrema delicadeza de uma Mó.
O que nosso silenciosos e não muito insociáveis governantes virtuais almejam? Ao que tudo indica é colocar a classe docente em estado de misantropia. Não sei se já conseguiram, muito menos se os que foram contaminados já sofreram algum tipo de tratamento. O que sei é que não haverá corregedoria que nos proíba de sonhar. O que parece obvio depois desse longo período de “Ditadura”, é que nossos representantes vivem uma realidade adversa no dias atuais, pois o sonho de nossos atuais governantes no passado que era contra quem dita, ao que tudo nos indica, quem sabe, era uma realidade cotidiana de, de vera ditar.
“Por ódio, cobiça, inveja,
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos
__ Mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.”
(Cecília Meireles, Romanceiro da Incofidência, pg.24, 1989)
vai sendo o inferno traçado.
Os reis querem seus tributos
__ Mas não se encontram vassalos.
Mil bateias vão rodando,
mil bateias sem cansaço.”
(Cecília Meireles, Romanceiro da Incofidência, pg.24, 1989)
* Conselheiro Municipal de Educação, Professor/Educador, Especialista em Educação Básica e Educacionista.
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