Li o livro quando era pequena. Ele mostra o lado bom dentro
de incidentes da vida. Neste momento, quando estamos realmente frustradas,
tristes e com muito trabalho pela frente (o calendário de reposição vai ser
difícil!), fomos convidadas por amigas e colegas de profissão a brincar de
Pollyana. Eu acredito na greve como instrumento de luta para mudar
momentaneamente a correlação de forças
entre patrão e empregado. E nós conseguimos por mais de 40 dias tirar a força
da PBH e revertê-la em coragem para a gente. CORAGEM, esta é a palavra que
ressoa em meu ouvido durante toda a greve.
A prefeitura nos coagiu e nos pressionou. A pressão é a
função dela mesmo, afinal desestabilizamos a balança entre quem manda e quem
obedece. Nós mandamos na greve! Cabe a eles pressionar, ou agir sem ética com
coação. Mas tivemos também uma ameaça de onde não esperávamos: a ameaça de
dentro da greve que pesou sobre os ombros das lideranças. Nossa maior ameaça
veio do colega e amigo ao lado. Ameaças concretizadas que afirmavam o tempo
todo que não conseguiam mais ficar na greve e voltariam sozinhas. Este é o
aprendizado que devemos ter nesta greve: a Assembleia é a instância de decisão
da categoria. As disputas devem ser feitas lá. Ela é deliberativa, e não
consultiva. Reuniões no coletivo das escolas são essenciais para tomar posição
na Assembleia, mas não para tomar decisões por ela. Erramos feio quando tomamos
a decisão por escola!
Nos últimos comandos de greve saíamos cabisbaixas. Não era o
peso das decisões que nos consumiam, pois temos clareza que devemos tomar
decisões estratégicas e difíceis. O que nos consumia era sermos responsáveis
pela permanência na greve por tanta gente. Ao invés de construirmos
coletivamente a autonomia para tomar decisões, construímos uma relação de
confiança cega, reforçada todas as vezes que ouvíamos falar em Assembleia:
vamos avisar a vocês quando não der mais para continuar. Minha bola de cristal
quebrou no processo. Errei feio avaliações, disse que vereadores específicos
eram perder tempo e eles assinaram o substitutivo. Disse que vereadores iriam
assinar o apoio e eles se esquivaram. Não fui só eu que errei neste caminho.
Não estou ressaltando erros para dizer que não devíamos
confiar nas pessoas e nas suas avaliações, mas estou afirmando com convicção
que as lideranças falham e confiar sem questionar é problemático, pois tiramos
do coletivo a possibilidade de reflexão e de criarmos estratégias mais
consistentes. Diminuímos a possibilidade de conquistas. Desta maneira, apesar
da felicidade extrema ao ver uma assembleia por várias vezes votar por
unanimidade a continuidade da greve, questiono o que se passava neste processo.
Não havia mesmo dúvida? A confiança era extrema, e portanto tutelar? Ou havia
um sentimento de vergonha de se colocar, medo de enfrentar as posições?
Acredito no processo de aprendizagem que aconteceu nesta
greve. Este sim é um ponto positivo, no entanto não atingimos nosso objetivo. O
objetivo era a UNIFICAÇÃO, e não a greve ou a visibilidade que daríamos ao
nosso trabalho na cidade. Não era nosso objetivo chamar as pessoas para greve
ou não ter corte de ponto. Dentro do processo essas questões foram importantes,
mas não eram o objetivo da greve.
Não quero novamente ter medo de não conseguir lutar em um
futuro próximo, pois isto tomou uma grande proporção nos últimos dias, dando
lugar ao sentimento de estarmos sozinhas no meio da multidão. Não olhamos quem
estava ao nosso lado, e sim quem deixou de estar. Demos importância às cadeiras
vazias, e deixamos de lado as cadeiras cheias de convicção. E desta maneira
começamos a pensar como acabar com a greve com o coração de dever cumprido no
lugar de ainda pensarmos como garantir o nosso objetivo final.
Acredito que vamos
lutar novamente em breve, pois temos a incrível capacidade de superação dos
erros. Reforço que não estou refletindo em cima destes erros para criar no
imaginário o sentimento de derrota, mas perdemos uma chance importante ao
perder o foco. Isto trará consequências que com o tempo tentaremos amenizar. E tenho certeza que os erros serão ressignificados
para permitir a superação deles em um próximo momento.
Não quero brincar de Pollyana. Não estou feliz com o desfecho
da greve.
Thaís