domingo, 29 de abril de 2012

Eu não quero mais brincar de Pollyana


Li o livro quando era pequena. Ele mostra o lado bom dentro de incidentes da vida. Neste momento, quando estamos realmente frustradas, tristes e com muito trabalho pela frente (o calendário de reposição vai ser difícil!), fomos convidadas por amigas e colegas de profissão a brincar de Pollyana. Eu acredito na greve como instrumento de luta para mudar momentaneamente  a correlação de forças entre patrão e empregado. E nós conseguimos por mais de 40 dias tirar a força da PBH e revertê-la em coragem para a gente. CORAGEM, esta é a palavra que ressoa em meu ouvido durante toda a greve.

A prefeitura nos coagiu e nos pressionou. A pressão é a função dela mesmo, afinal desestabilizamos a balança entre quem manda e quem obedece. Nós mandamos na greve! Cabe a eles pressionar, ou agir sem ética com coação. Mas tivemos também uma ameaça de onde não esperávamos: a ameaça de dentro da greve que pesou sobre os ombros das lideranças. Nossa maior ameaça veio do colega e amigo ao lado. Ameaças concretizadas que afirmavam o tempo todo que não conseguiam mais ficar na greve e voltariam sozinhas. Este é o aprendizado que devemos ter nesta greve: a Assembleia é a instância de decisão da categoria. As disputas devem ser feitas lá. Ela é deliberativa, e não consultiva. Reuniões no coletivo das escolas são essenciais para tomar posição na Assembleia, mas não para tomar decisões por ela. Erramos feio quando tomamos a decisão por escola!

Nos últimos comandos de greve saíamos cabisbaixas. Não era o peso das decisões que nos consumiam, pois temos clareza que devemos tomar decisões estratégicas e difíceis. O que nos consumia era sermos responsáveis pela permanência na greve por tanta gente. Ao invés de construirmos coletivamente a autonomia para tomar decisões, construímos uma relação de confiança cega, reforçada todas as vezes que ouvíamos falar em Assembleia: vamos avisar a vocês quando não der mais para continuar. Minha bola de cristal quebrou no processo. Errei feio avaliações, disse que vereadores específicos eram perder tempo e eles assinaram o substitutivo. Disse que vereadores iriam assinar o apoio e eles se esquivaram. Não fui só eu que errei neste caminho.

Não estou ressaltando erros para dizer que não devíamos confiar nas pessoas e nas suas avaliações, mas estou afirmando com convicção que as lideranças falham e confiar sem questionar é problemático, pois tiramos do coletivo a possibilidade de reflexão e de criarmos estratégias mais consistentes. Diminuímos a possibilidade de conquistas. Desta maneira, apesar da felicidade extrema ao ver uma assembleia por várias vezes votar por unanimidade a continuidade da greve, questiono o que se passava neste processo. Não havia mesmo dúvida? A confiança era extrema, e portanto tutelar? Ou havia um sentimento de vergonha de se colocar, medo de enfrentar as posições?

Acredito no processo de aprendizagem que aconteceu nesta greve. Este sim é um ponto positivo, no entanto não atingimos nosso objetivo. O objetivo era a UNIFICAÇÃO, e não a greve ou a visibilidade que daríamos ao nosso trabalho na cidade. Não era nosso objetivo chamar as pessoas para greve ou não ter corte de ponto. Dentro do processo essas questões foram importantes, mas não eram o objetivo da greve.

Não quero novamente ter medo de não conseguir lutar em um futuro próximo, pois isto tomou uma grande proporção nos últimos dias, dando lugar ao sentimento de estarmos sozinhas no meio da multidão. Não olhamos quem estava ao nosso lado, e sim quem deixou de estar. Demos importância às cadeiras vazias, e deixamos de lado as cadeiras cheias de convicção. E desta maneira começamos a pensar como acabar com a greve com o coração de dever cumprido no lugar de ainda pensarmos como garantir o nosso objetivo final.

Acredito que vamos lutar novamente em breve, pois temos a incrível capacidade de superação dos erros. Reforço que não estou refletindo em cima destes erros para criar no imaginário o sentimento de derrota, mas perdemos uma chance importante ao perder o foco. Isto trará consequências que com o tempo tentaremos amenizar.  E tenho certeza que os erros serão ressignificados para permitir a superação deles em um próximo momento.

Não quero brincar de Pollyana. Não estou feliz com o desfecho da greve.
Thaís

3 comentários:

blogdamodesta disse...

Belo o título do texto. Pollyana criou "o Jogo do Contente" (tanto otimismo irrita té aos otimistas!), a sua filosofia fez com que ela auxiliasse muitos. Uma criança tinha que se safar de intempéries e ela, sabiamente, o fez. Não é uma filosofia do conformismo, como muitos pensam. Estranhamente, nem sou fã de livros que exaltam o otimismo, porém no 2º livro ( Pollyana Moça), quando ela perde os movimentos das pernas e, cabisbaixa, desiste de tudo, quem um dia foi auxiliado por ela bate à porta e faz com que a moça retome o jogo que criou, pois se ela não tivesse tido "pernas" talvez não fosse possível ter auxiliado as pessoas com o seu jogo (é a deixa). Ela levanta a cabeça e, com paciência, utilizando-se da ciência, se cura. Uma novela (!), coisa dos livros de autoajuda, esse troço que teimo em dar as costas e que vende mais do que todos os livros do mundo, exceção para a Bíblia, que não deixa de ser um livro de autoajuda. E por que vende? As pessoas precisam achar uma saída e, quando esmorecidas, não conseguem fazê-lo. Achei que ficaria assim eternamente quando um filho faleceu, quando perdi um segundo; pensei que descansaria eternamente de todas as leituras do mundo quando o Parkinson com seus tremores me pegou. Não deu. Abaixar a cabeça, você?! Olhe para seu filho e verá que não pode fazer isso. Comece a "brincar de Pollyana", retome o "Jogo do Contente" porque você não é conformista, amanhã é dia de luta, depois de amanhã uma conferência lhe espera, e depois ainda restam histórias interessantes para ser lidas para as crianças e adultos, como a de "Ali Babá". Inté!

Anônimo disse...

Sabe Thais, concordo com vc. Estou triste e sem graça. Equiparar abono e reunião pedagógica uma vez que nem todos recebem? Que ele pode tirar quando bem entender?Aumento de R$50,00? Estou feliz por mim, que fiz a greve, que conheci, que aprendi. Que senti até mal de entrar naquela câmara e ver o descaso conosco. Eu entendi que tínhamos que fazer alguma coisa. Mas quando volto p escola e as que não saíram, falam que sabiam q não ia dar em nada, fico em silêncio. Em silêncio não pela greve, pq quem não está satisfeito, vendo seu direito ser ferido, tem que reclamar. Mas em silêncio pelo resultado. Tb não gostei do desfecho.

Anônimo disse...

É para pensar mesmo. Modesta e Thais têm razão, cada uma do seu jeito. Uma coisa completa a outra. Não dá para abaixar a cabeça, bola pra frente.