sábado, 17 de outubro de 2009

O que queremos com a arte?

Fragmento do texto de autoria da Juliana Gouthier e Rosvita Kolb de outubro de 2008

2.1.2 A Estética Escolar
Se visitarmos umas cinco instituições infantis e olharmos com cuidado os seus murais, os quadros de avisos, os desenhos e pinturas espalhados pelos corredores ou mesmo dentro das salas de aula, percebemos que, na maioria dos trabalhos, há algo em comum: o cuidado com a letra bonita, margens floridas, personagens das histórias em quadrinhos e das histórias infantis mais conhecidas, cartolina, papel kraft, pincel atômico e imagens recortadas de revistas. Também vemos muito sol - alguns com largos sorrisos - e flores de modelos bem recorrentes. O fato é que, em determinadas épocas, ferramentas novas aparecem no mercado e algumas técnicas entram na moda, como os emborrachados, as tesourinhas de cortes decorativos. Criam-se outros modelos que, apesar de novos, são incorporados em muitas instituições, seguindo um mesmo padrão. Nessa medida, uma questão nos preocupa:
Por que tudo é sempre tão parecido? Não será isso um reflexo da falta de acesso à Arte?
Não podemos encerrar este texto sem antes lembrar como as referências estéticas da mídia também são muito presentes nesse cotidiano e como determinados padrões influenciam tanto o nosso olhar que rapidamente se transformam em clichês.
Por que será que muita gente constrói imagens tão parecidas? Tomemos, por exemplo, o sol, a casa e a árvore. As casas que normalmente desenhamos não tem nada a ver com as casas que conhecemos. O sol, não raramente, costuma ter olhos e bocas, aparecendo, muitas vezes, parcialmente escondido atrás de nuvens bem redondinhas. A árvore também costuma seguir um padrão: tronco meio convexo e sugestões de galhos na parte superior, encoberto com uma copa redondinha, com o contorno parecido com o das nuvens.
Ao depararmos com esses estereótipos e outros que certamente povoam o nosso mundo imaginário, devemos perguntar: qual o motivo que nos faz ser tão repetitivos. Essa questão aponta vários sinais para importantes reflexões que nos mostrarão a necessidade de compreender e conhecer mais a arte ao longo da história e dos nossos dias. Mas, mais do que isso, precisamos pensar na nossa responsabilidade ao lidar com as crianças pequenas e com toda desenvoltura e curiosidade que carregam.
Diante disso, perguntamos:
  • Será que não estamos valorizando padrões superficiais, formando as crianças dentro de modelos estéticos do senso comum, ao invés de ampliar o seu repertório com relação ao conhecimento em arte?
  • Quem disse que os desenhos das crianças não podem ficar nos murais?
  • Por que preferir o desenho dos adultos?

Por fim, quer reforçar: a criação da meninada também pode ter um acabamento estético, sim. Podemos ajudá-los a organizar e explorar o espaço, a dispor os trabalhos para que fiquem harmoniosos diante dos olhos, bom de ver, de olhar e de apreciar. Isso também faz parte da aprendizagem em arte.

No entanto, resta-nos falar, infelizmente, o déficit em relação à arte, em boa parte das instituições educativas e na nossa sociedade como um todo, é bem grande. Mas, se interessarmos de fato, por esse estudo, valorizá-lo e desenvolvê-lo entre os pequenos, vamos aprender a brincar pra valer, estimulando-os a especular a construção de um modo bem especial e complexo de perceber e lidar com o mundo, com a vida.

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