domingo, 18 de outubro de 2009

Professor: Ausente!

*Eden Arcanjo


Hoje 15 de outubro, dia do professor. Data que além de não ser a mesma em muitos paises do mundo, com certeza expressa uma comemoração também não comum e especialmente naqueles paises que ao longo dos séculos aprenderam a reconhecer e a dar importância aos frutos que esse profissional ajudou e ajuda a plantar em suas nações. Mas em nosso país, sem elucubrações, muito pouco ou nada se ouviu falar nesta data, sobre o reconhecimento destes profissionais, digamos de passagem, segundo o próprio governo, que parece expor sem muito ceticismo, em vias de extinção.

A palavra professor, segundo nosso instigador Luis Carlos de Menezes, se desdobrou da palavra “professar”, assim como a palavra profissão, mas que além da ação do lecionar se debruça sobre a lucidez convicta e pública sobre o que se ensina, ou mesmo, sobre um compromisso que define a conduta do sujeito que professa. Aprofundando um pouco mais, filósofos gregos acreditavam de forma não muito platônica que o professor era aquele que quando atuando se desligava de si enquanto sujeito e de suas limitações pessoais, para servir aos jovens mancebos partículas redentoras do lumeiro do conhecimento acumulado pela sociedade sobre esse mundo.

Nesse dia, poderíamos ao menos nos sentirmos especiais e importantes, mas é uma data que em muitos traz angustia e em outros orgulho. Não é por coincidência que muitos destes profissionais lutaram até as últimas conseqüências durante todo esse ano, contra as ações perversas da privação de direito de algumas secretarias, para conseguir esta semana de descanso, ou será de esquecimento? Esquecimento dos: discursos falaciosos dos governos que se recusam a obedecer a nossa Carta Magna e não investem corretamente os valores definidos com a educação dos descasos das secretarias de educação que não conseguem pensar educação democrática insistindo em explorar e em não valorizar seu corpo de profissionais da educação, do implemento de desmandos que vão de encontro a saúde do professor, bem como da falta de condições de trabalho, da privação de direitos garantidos em lei, e o pior, rediscutidos em instancias maiores e relevados, dos enfados políticos e perseguições, do aluno fragilizado e daquele que o fragiliza, da falta de comprometimento de alunos, pais e não muito comum de alguns colegas.

A semana vai passar e infelizmente teremos de lembrar dessas coisas, elas farão parte de nosso cotidiano, não dá mais para ignorar nossas limitações e os problemas que nos cercam e circunscrevem nossa real condição dis“humana”. Sabemos que muitas outras profissões também estão fragilizadas, mas nenhuma exige tanto envolvimento e discernimento de quem as exerce. A função docente não termina ao tirar o macacão, jaleco ou o paletó. Ela nos acalenta durante nosso repouso ou nos traz pesadelos que se perpetuam no dia seguinte.

O professor se tornou um soldado mais experiente que mesmo quando ferido precisa continuar de pé para que os “praças” – os alunos – não abandonem a batalha. Nosso trabalho exige posicionamentos, os mesmos utilizados por “colegas” que hoje estão no poder, que prometeram mudar a educação, e que ao longo da nossa história de luta se fizeram operar como uma importante ferramenta para construção de nosso presente. Hoje querem nos aprisionar em nosso futuro diante daquilo que é nossa maior fragilidade: nossa função. E dentro dela procuram nos amedrontar com sofismas e nos manipular com nossos medos e falta de amadurecimento e ingenuidade dos poucos que estão chegando.

Mas nada nos tira nossa essência, mesmo sabendo que também somos frágeis, aprendemos a respeitar a fragilidade dos outros – esses as vezes se estendem para mais além de nossos muros – e cultivamos deles a admiração por contribuir para que possam superar seus desafios. Não podemos desprezar esse fato: que o maior presente que ganhamos a cada dia é quando percebemos que houve troca de respeito, admiração e aprendizagem aliada à mudança de vida e que a partir de então eles podem gerir democraticamente sua liberdade.

Ensinamos a justiça, apesar de muitas vezes aos olhos de nossos colegas e alunos sermos injustiçados, garantimos a igualdade sendo tratados com preconceito, promovemos a autonomia mesmo não podendo esconder os grilhões que tanto nos machucam, apoiamos e acreditamos no sucesso de tantos, mas hoje nos vemos desacreditados. Não porque falhamos em nossa missão educadora, mesmo porque muitos daqueles que nos assistiram em sala de aula, hoje chegaram ao topo ou estão a caminho dele, os ensinamos a não olharem para trás e não somente para frente.

Então, se me perguntarem o porque do desinteresse pelo magistério no Brasil. Seria redundante dizer que nossos governos carregam consigo um ônus histórico de responsabilidade, é um período negro onde passado e presente se misturam. Prefiro ser hilário e dizer, com um largo sorriso amarelo estampado no rosto, depois de me tornar ébrio: que os alunos que chegaram ao período de escolha profissional, tiveram grande desmotivação e desinteresse pela carreira do magistério, é que descobriram que a figura docente era um “super herói” que, na vida real, seria muito difícil de imitar. Parabéns professores de BH e do Brasil! Sem sombra de dúvida você pode não ser rico, mas é umas das maiores riquezas desse país.



*Professor.

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